Minha geração sofreu uma avassaladora influência cultural estadunidense. Essa invasão cultural, que de “soft” não teve nada, se fez presente através da música, do cinema, das séries, enfim, de Barrados no Baile a Friends, passando por “Boy Bands”, além dos ícones de Hollywood, tudo quanto é porcaria enlatada norte-americana nos foi empurrado goela abaixo. Praticamente não havia possibilidade para essa safra de brasileiros fora da bolha hegemônica cultural estadunidense.
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A geração nascida nos anos 80 do século XX é uma geração completamente desprovida de identidade nacional, nos foi arrancado o sentimento de brasilidade, a noção de pátria. Nos fizeram acreditar que o nosso idioma não é importante e que o inglês seria a língua franca, ou seja, o idioma universal (e ai de quem questione isso, sofre perseguição imediata).
A invasão cultural foi tão eficaz que conseguiu penetrar até mesmo no Brasil Profundo, impulsionada pela Rede Globo, porta-voz dos interesses ianques, com sua Sessão da Tarde exibida desde 1974, que levou as produções cinematográficas hollywoodianas para dentro de praticamente todas as nossas casas. O "American Way of Life” passou a ser regra de comportamento, impôs a moda e os padrões estéticos de beleza. Tudo passava a girar em torno de um suposto estilo de vida americano.
Durante os anos 90 assistíamos embasbacados filmes que mostravam apenas o “lado bom”, digamos assim, dos Estados Unidos. Aquelas casas dos subúrbios norte-americanos com um simples cercadinho, ou sem cerca alguma, que nos passava a sensação de um país seguro, onde as pessoas não precisavam de muros para se proteger, e todas elas estavam sempre orgulhosas ostentando a bandeira estadunidense em suas portas. As escolas possuíam piscinas olímpicas, quadras poliesportivas, campos de futebol, todos os alunos podiam escolher praticar algum esporte. Era quase um paraíso na terra.
Nunca nos mostravam que as pessoas viviam em túneis subterrâneos em Los Angeles ou em barracas de camping: sempre nos ocultaram a desigualdade colossal nos EUA. Raras eram as oportunidades de observar a realidade das escolas deterioradas e violentas dos bairros periféricos nos grandes centros urbanos. Um Diretor Contra Todos (1987) com James Belush, e Mentes Perigosas (1995) com Michelle Pfeiffer, foram raridades que nos permitiram assistir, porém, já estávamos tão embriagados de propaganda norte-americana que qualquer crítica aos Estados Unidos era imediatamente rechaçada. Os brasileiros, anestesiados pela cultura pop estadunidense, passaram a defender os EUA como se fossem seu próprio país: nada mais deprimente para um povo que sempre sofreu preconceito dos anglo-saxões, a Síndrome de Estocolmo se apoderou da nossa patética classe média.
Com esse imperialismo cultural nosso povo foi perdendo, progressivamente, a identidade, nossa vontade era viver nos Estados Unidos, ou pior, ser “americano”. Nada que estivesse conectado com o Brasil prestava, nem com Portugal, nem com nossos irmãos hispânicos. O bom e o belo era anglo-saxão, de preferência estadunidense: o complexo de vira-latas de Nelson Rodrigues estava no seu apogeu.
O sonho brasileiro passou a ser o sonho americano, a classe média (até mesmo a ala “esquerda”) queria ser “cool”, aderiu ao frenesi pela Disneylândia. O desejo das massas idiotizadas se resumia em levar seus filhos para tirar fotos com o Pateta (imaginem a quantidade de patetas nas fotos) e comprar bugigangas em Miami.
É por isso que o imperialismo norte-americano é mais perigoso e mais nefasto que qualquer outro imperialismo. Ele não é apenas econômico, é também cultural. Assistimos impotentes a cooptação completa de um povo por uma nação mais poderosa. Andamos cabisbaixos, sem orgulho, sem sensação de pertencimento a um território, sem raízes. Um povo que não sabe de onde veio e não sabe para onde vai, tutelado pelo império mais maléfico da terra.
Por uma nova filosofia política e cultural... Resistir é preciso, viva o Brasil!
André Nunes
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