Por André Nunes, 01/08/2024
Ao revisarmos os textos, ensaios, teses e publicações em geral sobre a política externa durante os dois primeiros mandatos do presidente Lula (2003–2011) é comum nos depararmos com afirmações sobre o quão estável parecia o país quando Lula foi eleito, o presidente haveria herdado um legado positivo do governo anterior e a partir de 2003 teria aproveitado o cenário internacional favorável.
Entretanto, ao chegar à presidência, Lula herdou um país imerso em dificuldades impostas pelo Consenso de Washington e o regime neoliberal implantado durante os governos anteriores de Fernando Henrique Cardoso: déficit no comércio exterior, endividamento externo, privatizações criminosas que debilitaram a capacidade estratégica do Estado, uma nação submissa às regras da governança global determinadas pelos países centrais para seu próprio benefício.
Desde o início de seu primeiro mandato Lula agiu como estadista, resgatando a diplomacia presidencial para situar o Brasil como potência regional, priorizando a relação com os vizinhos sul-americanos e com países africanos e asiáticos. No âmbito interno impôs freios ao neoliberalismo, o que permitiu resgatar a centralidade do Estado e edificar uma política externa ativa e independente com intensa presença nos órgãos de negociação multilateral.
O governo brasileiro passou a questionar a fé cega na abertura dos mercados, as barreiras alfandegarias impostas pelos países desenvolvidos contra as exportações dos países emergentes e a desigualdade entre as nações. A diplomacia brasileira então incorporou, sob influência de Lula, o componente moral nas relações internacionais, elevando o discurso ao incluir o combate à fome e à pobreza nos fóruns globais.
A integração regional foi marca registrada, com o esforço brasileiro para criação da UNASUL - União de Nações Sul-Americanas. Dentro dos princípios do multilateralismo e da reciprocidade, o Brasil também buscou aproximação com os principais países emergentes, Lula foi um dos artífices do BRICS, bloco que integraria Brasil, Rússia, China e, posteriormente, a África do Sul.
Neste terceiro mandato o governo já demonstrou que vai atuar para recuperar o modelo de inserção internacional que colocou o Brasil no rol das potências emergentes nos primeiros mandatos de Lula, reafirmando a necessidade de reforma das Nações Unidas a fim de inserir países relevantes como o Brasil no Conselho de Segurança.
Com o retorno de Lula, o que volta para a agenda de política externa brasileira é o combate à fome, a cooperação com a África, o Brasil como líder tanto sul-americano quanto do sul global, e a percepção da mudança climática como um problema mundial grave a ser solucionado de forma cooperativa e coletiva. Após quatro anos de isolamento o Brasil está de volta ao cenário internacional.
André Nunes, analista político, graduado em Ciências Contábeis pela UERJ e pós graduado em Ciências Políticas pela UCAM-RJ.
Texto elaborado para avaliação da disciplina Brasil: Política Externa, de Defesa e de Segurança - constante na grade da Especialização em Estratégia e Relações Internacionais Contemporâneas da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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