O falso mito de que negros escravizavam negros no Brasil

Redação UH, 06/07/17 - Atualmente há uma organizada e persistente corrente de pensamento liberal (liberalismo) empenhada em difamar a imagem de qualquer símbolo de resistência da brasilidade perante os sistemas ao qual fomos subjugados durante os séculos desde o descobrimento. De Zumbi dos Palmares a Tiradentes, os liberais têm praticado um revisionismo histórico medíocre e repugnante, sem nenhuma responsabilidade com pesquisa e fontes fidedignas, estão forjando os chamados "fakes", tentando justificar o injustificável: A opressão do homem branco sobre os negros.

Imagem retrata vida no "quilombo"


Os negros no Brasil, durante o período colonial e posteriormente imperial, estavam fadados a um verdadeiro "sistema de terror", como bem definiu um dos maiores pesquisadores do tema, o historiador Décio Freitas, no qual as piores torturas imagináveis tinham como consequência a "alienação da própria identidade humana do escravo". Freitas não se limitava a compilar informações bibliográficas, mas ia às primitivas fontes (no Brasil e Portugal), buscava novas óticas e possibilidades de interpretação dos fatos.

Para esclarecer a relação estabelecida entre os escravos que lograram fuga dos engenhos de açúcar da capitania de pernambuco, retiramos algumas partes do livro PALMARES - A GUERRA DOS ESCRAVOS, deste renomado pesquisador, Décio Freitas:

..."Muitos se suicidavam, outros tentavam resgatar sua humanidade pela fuga. Mas a própria fuga não foi forma eficaz de libertação enquanto não descobriram a região de Palmares, convertendo-a inicialmente num refúgio seguro, e, depois, num foco insurrecional".

Em Palmares sofriam não somente da falta de mulheres como "por igual da falta de homens. Os que fugiam espontaneamente para Palmares, cedendo àquilo que um documento chama de 'persuasões de liberdade', era no início bastante diminuto. Sabiam que os esperava na selva uma vida mais dura, crua ou perigosa que nas senzalas. Os palmarinos se viram assim forçados a sequestrar homens.

Esses negros permaneciam algum tempo como virtuais prisioneiros e só adquiriam plena liberdade quando participavam de duas ou três incursões para sequestrar outros negros. Tem-se dito que está prática dos palmarinos configurava uma forma de escravidão. Na verdade, está elucidado que, cumprida aquela condição o negro passava a gozar de completa liberdade. A escravidão seria obviamente incompatível com a índole do movimento palmarino.

Por falar nisso, é inteiramente incorreto dizer que os palmarinos instituíram a escravidão por força de uma tradição escravista das civilizações africanas. O falado "escravismo africano" não passa de abusão histórica hoje cabalmente refutada. A escravidão nunca existiu no como modo de produção na África e mesmo quando aparece em sua história, a título completamente excepcional, assume quase sempre um caráter patriarcal, o próprio prisioneiro de guerra incorporado depois de algum tempo à família do vencedor.

Guerra dos Palmares


Os palmarinos fizeram ainda incursões para se prover de armas, pólvora e ferramentas de trabalho. Como se pode imaginar, não perdiam oportunidade de exercer sua vingança depredando engenhos, ateando fogo em plantações e justiçando feitores.

Já nos fins do século XVI, o número de negros embrenhados na região palmarina era de molde a causar apreensão em Pernambuco. O que se vislumbrava numa carta escrita em 1597 pelo padre Pero Lopes, provincial dos jesuítas na capitania.

Não seria impossível, dizia ele, que um dia se repetisse em Pernambuco o ocorrido na ilha de São Tomé, onde os negros haviam destruído os engenhos, queimado as plantações e expulsado os portugueses. Os negros rebeldes da capitania, assegurava o padre Pero Lopes, 'são os primeiros inimigos' e 'dão muito trabalho'.

... Os próprios índios das aldeias jesuíticas abandonavam os padres para se reunirem a eles (escravos fugitivos) 'Os índios da terra logo se vão para o mato', lê-se num documento de 1612, 'onde fazem abomináveis vivendas e ritos, juntando-se com negros da Guiné também fugidos'.

... Nos anos seguintes , os palmarinos se multiplicaram e prosperaram. E nas serranias selváticas do sul pernambucano, foi tomando forma uma rústica e original república negra... O escravo asilado naquelas serras selvagens deixara de ser uma coisa falante para recobrar sua dignidade humana."

Edição: André Nunes

Comentários