Clientes lamentam o fim das atividades da rede de papelarias
06/09/2017
O DIA
Rio - A Casa Cruz, papelaria mais tradicional do Rio, fechou as portas de todas as suas lojas no último fim de semana. O prédio histórico na Travessa São Francisco de Paula, que se tornou Rua Ramalho Ortigão, no Centro do Rio, abrigou a primeira unidade do estabelecimento por 124 anos, desde 1893. As outras unidades, em Copacabana, Tijuca, Madureira, Campo Grande, Nova Iguaçu e Niterói também encerraram suas atividades. Apesar de ter começado como um comércio de vidros, a rede logo expandiu suas atividades e atravessou três séculos abastecendo os cariocas com material escolar e artigos de desenho e pintura.
Quem passou em frente à matriz na tarde desta segunda-feira, foi recebido pela funcionária de outra papelaria que aproveitou para fazer propaganda no local. Os antigos clientes reagiram com pesar à visão das portas fechadas. "É muito triste. Vivi em tantos governos diferentes, mas nunca vi uma situação como a atual. Estou indignado", disse o professor José Augusto, que costumava comprar na Casa Cruz. Outro cliente, o advogado Anselmo Louzeiro Braga, que trabalha há 11 anos perto da loja, também lamentou o fechamento: "Comprei tanta tinta aqui, era muito antiga, mais antiga que eu. Vim do Maranhão para o Rio há 43 anos e só saio daqui morto, é uma cidade maravilhosa, mas a situação atual da economia aqui é muito triste".
Loja histórica da rede ficava na Travessa São Francisco, Centro Sandro Vox / Agência O Dia
Nos últimos meses, a Casa Cruz passou por atrasos de salários e demissões em massa de funcionários, que culminaram, em novembro do ano passado, em uma manifestação do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, em frente à matriz da papelaria. Outros ex-clientes que passaram em frente à loja fechada relataram que a qualidade do atendimento vinha caindo, e que itens básicos estavam constantemente em falta no estoque. Procurada, a Casa Cruz não foi encontrada para comentar o encerramento de suas atividades.
O site da Casa Cruz, ainda no ar, diz que a rede tinha a meta de abrir duas novas lojas em 2017, e entre cinco e oito novas lojas nos próximos dois anos. O site também informa que a rede chegou a ter 60 mil itens em catálogo, de mais de mil fornecedores, e que empregava 400 funcionários, número que chegava a 600 na época de volta às aulas. "É um momento triste para o comércio do Rio de Janeiro", comentou Aldo Gonçalves, presidente do Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDL-Rio). "São tempos difíceis na economia, o comércio sofre com o alto índice de desemprego, comércio informal como os camelôs, e a consequência são as lojas fechadas", avaliou.
Reportagem de Nadedja Calado, com supervisão de Angélica Fernandes
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